Diada: o Dia da Catalunha
A coincidência é infeliz, mas para além dos atentados às Torres Gémeas o 11 de Setembro é uma data relevante por outro motivo que, graças à lógica do monotema dos meios de comunicação, não será de espantar se passar completamente despercebido. Comemora-se hoje a Diada, o Dia Nacional da Catalunha, aquela nação ibérica a cuja revolta em 1640 Portugal deve em parte o sucesso da sua restauração da independência.
A relevância deste dia para a história catalã data de 1714. Estava-se, então, no final da Guerra de Sucessão Espanhola, originada em 1701 quando a Carlos II, último rei Hasbsburgo de Espanha, sucedeu Filipe d'Anjou, neto de Luís XIV de França. A coroa espanhola passava, assim, para um Bourbon, sucessão contestada pelo imperador Leopoldo I do Sacro Império Romano que, sendo um Habsburgo, pretendia fazer valer os direiros sucessórios da sua família ao trono espanhol. O candidato por ele apoiado viria a ser o seu filho mais novo, o Arquiduque Carlos da Áustria. Enquanto as potências europeias tomavam o partido francês ou austríaco e ocorriam os primeiros combates, em Espanha, depois de Filipe ter sido inicialmente aceite como soberano, as cortes catalãs declaram-se a favor de Carlos. Em 1705, o Arquiduque entrou em Barcelona e foi aclamado rei no ano seguinte.
O final do conflito começa a formar-se em 1713 com o Tratado de Utrecht. O texto reconhecia Filipe como rei de Espanha, mas este teria que renunciar a qualquer direito seu ou dos seus descendentes ao trono francês. A Inglaterra e os Países Baixos cessam as hostilidades contra França e Espanha, mas Luís XIV prossegue durante mais um ano a guerra contra o Arquiduque Carlos, entretanto imperador sacro-romano pela morte do seu irmão mais velho e sucessor de Leopoldo I. Em Espanha, o conflito prossegue na Catalunha com o cerco a Barcelona. A lutar por uma causa já perdida, a cidade cai a 11 de Setembro de 1714. Segue-se a punição e repressão da nação catalã. Em 1716, pelos decretos de Nueva Planta, são abolidos todos os privilégios político-administrativos, instituições, códigos legislativos e direitos catalães. Os territórios da antiga Coroa de Aragão passavam a ser regidos pelas leis de Castela, as universidades catalãs foram suprimidas e o uso da língua catalã proibido, primeiros nos orgãos administrativos e, mais tarde, no ensino e uso público. Era o consumar de uma Espanha centralizada e monolingue.
Foi precisamente com o renascer da autonomia catalã em 1980 que o 11 de Setembro foi declarado o Dia da Catalunha. A efeméride, para além de dar lugar a concertos, manifestações e outras actividades festivas, é motivo para homenagens a Josep Moragues e Rafael Casanova, líderes da resistência de Barcelona de 1714, e para uma concentração pública na Fossar de les Moreres, local onde foram enterrados todos os que morreram na defesa da cidade. A data, conhecida em catalão como a Diada, recorda e celebra, assim, a identidade própria daquela nação ibérica no mesmo dia que marcou o início da sua supressão, qual Fénix renascida das cinzas. E este ano, graças à aprovação de um novo Estatuto de Autonomia que concede mais poder à Catalunha, a data reveste-se de especial impotância. É certo que o texto ainda não permite o direito à auto-determinação, mas já esteve mais longe ;)
Adiante Catalunha!
Catalunya, triomfant, tornarà a ser rica i plena!
Endarrera aquesta genttan ufana i tan superba!
Primeiras linhas do hino nacional catalão (texto integral e também em língua catalã disponível aqui)
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