sexta-feira, outubro 27, 2006

Nas cheias como nos incêndios

Parece que em Portugal a Protecção Civil está mais centrada no socorro e menos na prevenção. Pelo menos é o que diz o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Por outras palavras, parece que a tónica está em remediar em vez de prevenir. Nada de surpreendente num país onde todos os anos ardem milhares de héctares por falta de uma política nacional de ordenamento e protecção florestal. E quando a casa não está cuidada e protegida, todos os meios são escassos para fazer face aos problemas. Senão vejamos.

Faz algum sentido uma habitação particular ou sede de uma empresa ter materiais inflamáveis mesmo ao lado de fontes de calor, sem cinzeiros onde apagar os cigarros, sem cuidado com os tubos de gás, sem a instalação eléctrica bem mantida, com velas acesas em todas as divisões a toda a hora e uma lareira a poucos milímetros dos cortinados? Certamente que não. Na nossa casa, como no nosso local de trabalho, há toda uma série de regras destinadas a prevenir incêndios. Quando tudo falha, aí sim dá-se uso aos extintores e saídas de emergência. Não andamos no mais perfeito desleixo, mas prevenimos o fogo ao máximo: os meios de combate e fuga são o último recurso quando tudo o resto falha. Agora transponham o exemplo para a floresta portuguesa e descubram as diferenças...

E tal como na prevenção dos fogos florestais, assim o é no que às cheias diz respeito: construímos onde bem queremos, bloqueamos linhas de água com um muro, estrada ou casinha dos nossos sonhos, ocupamos leitos de cheia, urbanizamos em excesso, despejamos entulho nas margens dos rios, deixamos lixo nas ruas das cidades e tiramos aos solos a capacidade de absorver água. A ilusão de segurança aumenta com a ocorrência ciclica de anos mais secos e eis como os ventos estão semeados: depois é só colher as tempestades. E quando elas chegam num país neste estado, todos os meios são escassos para fazer face aos pedidos de socorro.

Em vez de passarmos o ano todo a pensar que em caso de problema basta chamar os bombeiros ou a protecção civil, deviamos prevenir antes de remediar: limpar os rios, reflorestar com qualidade, desobstruir as linhas de água e demolir. Sim, demolir! Se é possível avançar com a demolição de edificios para dar lugar a uma qualquer nova via rodoviária, então também é possível fazê-lo para restituir à Natureza o que lhe pertence. O progresso nem sempre se faz de mais construção, por vezes equivale a menos, e menos construção recente onde ela não devia existir - seja na faixa costeira ou nos leitos de cheia - é não só necessário, como até acaba por sair mais barato: poupa-se no custo de manutenção artificial e nos prejuízos que advêm das consequências do mau urbanismo.

5 comentários:

Anónimo disse...

... eh pá, isso aí em Alcobaça é potente ;-)

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1274994

py

Anónimo disse...

mas como vês não será fácil:

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1275322&idCanal=78

py

Héliocoptero disse...

Ninguém disse que ia ser ;)

Anónimo disse...

... mas olha aqui em Cascais consegui dar a volta a uma coisa grande (baixou de mais de 50000 m2 para 19000 m2 de construção, cheio de contrapartidas, um ecoparque, vários jardins, etc.) à conta de um dec-lei bem feito, o 380/99, e de um basqueiro nos jornais, e só não faço mais porque entretanto fartei e já sou cota passo a bola; esse decreto consagra a existência da "estrutura ecológica municipal" entre outras coisas

(esta é para o snoopy)

Héliocoptero disse...

O meus mais sinceros parabéns! :D