Dia das Letras Galegas
Para além de Dia Mundial da Luta contra a homofobia, 17 de Maio é também o Dia das Letras Galegas. Trata-se de uma efeméride com direito ao estatuto de feriado na Galiza e que é celebrada desde 1963 em memória da publicação, cem anos antes, dos Cantares Gallegos de Rosalia de Castro, escritora e fundadora da literatura galega moderna. Recordemos um pouco de História.
Ao período áureo da literatura galego-portuguesa dos séculos XIII e XIV, no qual se insere a poesia trovadoresca para a qual o nosso rei D. Dinis tanto contribuiu pela sua própria pena, e depois uma fase de prosa galega e portuguesa no século XV, seguiram-se os chamados Séculos Escuros. Neles, o galego foi expulso do uso oficial e despojado de tradição erudita, confinando-se largamente à oralidade e sujeito a uma castelhanização maçiva. Em Portugal, por contraste, o mesmo idioma recebia protecção legal desde o reinado de D. Dinis, quando o nosso monarca fez do galego a língua oficial da chancelaria real, lançando as bases de uma tradição escrita e erudita. A fala comum das camadas populares, oriunda da Galiza e trazida para sul pela Reconquista, passava assim a chamar-se português.
Os Séculos Escuros que ditaram um rumo diferente para o galego a norte do rio Minho têm a sua origem em disputas pelo trono castelhano em que a nobreza galega, por duas vezes, viu-se do lado dos vencidos. Na segunda dessas ocasiões opuseram-se a Isabel, a Católica, que, quando recebeu a coroa de Castela, decidiu, em nome de um reforço da autoridade real, que a Galiza teria uma nova elite nobiliárquica, substituindo, então, a nobreza galega por uma de origem castelhana que não usava o galego, ditando, assim, o fim do seu estatuto oficial e erudito. Dos séculos XV a XVIII vão 300 anos de uso popular que só ocasionalmente viu o aparecimento de intelectuais que defendessem a língua da Galiza e em que ela era escrita apenas por classes sociais médias bilingues, sujeitas, na sua ascensão, a elites monolingues em castelhano. Foi preciso esperar pelo século XIX e o Ressurgimento para que surgisse um verdadeiro movimento de recuperação da cultura e identidade política galegas e que teve o seu ponto de partida na publicação dos Cantares Gallegos de Rosalia de Castro em 1863. Tratou-se da primeira obra moderna redigida integralmente em galego, onde estava bem patente a influência do castelhano na forma escrita por ausência de um outro modelo.
Este ano, tal como todos os anos, a efeméride foi assinalada por diversas actividades, campanhas e actos mais ou menos formais. São disso exemplos a Semana da Língua (programa aqui), evento organizado pela Mesa pela Normalização Linguística, e o Mês da Língua, já na sua quinta edição, organizado pela Associaçom Cultural Alto Minho em colaboração com a Associaçom Galega da Língua e o Movimento de Defesa da Língua (programa aqui). De referir ainda a realização, esta noite, por uma associação cultural de Braga, a promoção e realização de uma entrevista (ou conversa moderada) a um professor galego e a publicação, no dia de hoje, das actas do V Colóquio Anual da Lusofonia, que decorreu em Outubro do ano passada na cidade de Bragança sob o tema «Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza».
Uma boa maneira de lembrar a origem galega da língua portuguesa e dos laços que unem ainda as duas nações separadas pelo rio Minho.
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