sexta-feira, março 25, 2005

Azul é a cor do campo

Algures num campo nos arredores de Alcobaça, agrupam-se pessoas aos milhares para ver um torneio ímpar. D. Samuel acolheu em sua nobre casa uma dama formosa vinda de terras longínquas e decidiu chamar a si os maiores cavaleiros do reino, propondo-lhes um desafio: que lutassem pela mão da bela dama, que lutassem pelo amor como nunca antes o tinham feito...literalmente!!!

Reunidos no sopé de uma colina verdejante estavam já algumas das "armaduras-pesadas" de El-Rei: D. Coutinho, D. Ricardo, D. João de Kallash, D. Henrique, D. Siopa e D. Toscano. Com eles vieram os seus pagens e claques, juntamente com grupos de admiradores. Por fim, o soar das trombetas: os muitos espectadores acorrem às bancadas e fixam os olhares no campo azul. Lá em baixo, as claques pulavam e dançavam pelos seus cavaleiros por entre uma chuva de confetis; as apoiantes de D. Siopa e D. João cantavam empolgadas: Oh avó! Um fato de treino!

Outro soar das trombetas e eis que, no alto do seu assento devidamente engalarnado e abrasonado (que chique!), surge D. Samuel acompanhado pela dama. Acena com uma mão e grandes tambores fazem-se ouvir por todo o campo: entram os vários cavaleiros, dezenas deles, lenta e orgulhosamente em fila indiana. Quando param, todos perfilados diante da bancada senhorial, D. Samuel toma uma bola e exibi-a: os cavaleiros desmontam dos seus cavalos que são de imediato levados pelos seus pagens para fora do recinto do desafio; a equipa médica toma o seu lugar. Subitamente, a bola é lançada para o campo: começou o desafio!

Um jovem cavaleiro lança mão dela e avança pelo recinto a dentro, procurando atingir o alvo. Vem D. Siopa que lhe tenta impedir o avanço, mas é tomado por um súbito cansaço. A D. Toscano ele terá dito:

Siopa: Estou cansado!
Toscano: Mas não dormiste?
Siopa: Dormi, pois! Mas acordei, mantive-me acordado e ainda estou acordado!

Fulminado por esta lógica magnânima, D. Toscano achou melhor afastar-se e concentrar-se no desafio. Um cavaleiro tinha a bola em sua posse e avançava em direcção ao alvo. D. Ricardo impede-o, mas a bola ressalta, faz ricochete, acaba nas mãos de outro cavaleiro que teve o azar de ter D. Siopa atrás de si. Um encontrão inocente e ops!, lá foi ele ao chão. A confusão instala-se e D. Henrique intervém:

Henrique: Calma! Pensem no Amor e vocês serão o Amor!
Coutinho: The love field! Tarantan! Soon you'll be making a better game! Tarantan!

Aproveitando este momento de "reflexão" dos seus adversários, outro cavaleiro rouba a bola das mãos de D. Siopa. D. Coutinho intervém e impede o seu avanço usando o boomerang que vai e não vem (frequentemente chamado de...pau). A bola passa para as mãos de D. Ricardo que corre pelo recinto fora até chocar com um homem que, em invasão de campo, corre com um cão de duas patas ao colo e um cachecol do Barcelona ao pescoço. Um jovem cavaleiro toma para si a bola, mas perde-a para outro que depois se enfrenta com D. Henrique:

Público: Sangue! Esmaga! Esmaga!
Henrique: "I'll bite your legs off!"

Tentando uma finta, o cavaleiro é bloqueado por D. Henrique, mas, ainda assim, consegue lançar a bola com toda a sua força contra o alvo que lhe permitia pontuar e vencer. Falha! D. Granada surge do nada e impede o avanço do esférico. Agora é ele quem toma a iniciativa, ou teria tomado, não tivesse surgido D. Toscano que, ao tentar agarrar a bola, na realidade chutou-a bem alto e para fora do recinto. O desafio é interrompido e os cavaleiros recolhem-se para as suas tendas até que após alguns minutos as trombetas soam novamente: o torneio vai recomeçar!

D. Samuel volta a atirar a bola para o meio do recinto e a luta cerrada pela sua posse prossegue: D. João tenta deitar-lhe mão, mas falha e perde-a para um outro lutador que, por sua vez, perde-a para D. Countinho que, por sua vez, perde-a porque foi subitamente assaltado por um gigante de nome Papão Aníbal e que lhe causou uma lesão. A equipa médica entra em campo e o Dr. Eduardo mais o seu assistente Dr. Alves tentam uma rápida cura de D. Coutinho com a súbtil técnica conhecida como acupunctura com pés:

Eduardo: Vá lá, levanta-te! Isso é tudo farsa, levanta-te!
Alves: Acho que não lhe devemos dar mais pontapés, senhor doutor...
Eduardo: Mas qual quê, ele está muito bem! Até já se está a levantar!
Coutinho: (com voz esforçada) Obrigado, doutor, já me sinto muito melhor... (tosse e cospe qualquer coisa com um aspecto muito pouco saudável).
Eduardo: De nada, rapaz! Isto é tudo uma questão de ter jeito para a coisa!
Coutinho: (a tossir) Sim, o doutor realmente tem o dom pelos pés a dentro...

De volta ao jogo, D. Henrique toma a iniciativa e avança pelo campo. É encurralado a um canto e um cavaleiro atira-lhe um elmo para o fazer largar a bola. Mas D. Henrique defende-se, impávido e sereno, e teria continuado a deter o esférico se um grupo de homens com canhões de água não tivesse aparecido do nada e tivesse lançado a confusão no desafio. A luta continuou, renhida, cerrada...estranha, muito estranha. Parte das bancadas desabaram por entre a confusão, mas ainda assim o desafio prossegue e o público grita, dir-se-ia de emoção (entre outros motivos menos agradáveis, mas dos quais não vamos falar). Um cavaleiro baixo agarra na bola perdida no meio da confusão, mas perde-a para as mãos do Papão Aníbal que, por sua vez, perde-a para um cavaleiro que a lança, mas falha o alvo quando D. João tentou travá-la, apesar deste facto nada ter a ver com o falhanço do lançamento: foi simplesmente um acaso as duas coisas terem acontecido ao mesmo tempo. Depois é D. João quem toma o esférico e, após avançar com ele nas mãos, lança-o em direcção ao seu alvo de um modo certeiro. E teria de facto sido certeiro, não tivesse D. Toscano intervido e, novamente, lançado a bola para fora do campo com um toque de pé. Uma outra bola é lançada para dentro do campo para que o desafio prosseguisse quanto antes, mas eis que, para surpresa de todos, é seguida vá-se lá saber porquê por uma bola de bowling gigante.

A confusão instala-se (sim, mais do que já estava!). D. Henrique tenta impedir o avanço da bola gigante com o ataque astral da Navegante da Lua número 421/B 12, mas sem sucesso. D. Coutinho agarra-se ao esférico e faz uma corrida fulminante à frente da bola de bowling em direcção ao alvo, tentando aproveitar a distracção generalizada para pontuar e ganhar. Mas os outros aperceberam-se, de imediato correram atrás dele e, antes que ele conseguisse pontuar, atiram-se todos para cima de D. Coutinho. A equipa médica achou, como é lógico (muito, não haja dúvida...), que tinha que intervir e atira-se também ela para o meio da confusão, apenas para ficar debaixo do esférico gigante, o qual destrói o que restava das bancadas.

No final, entrevistada por um monge local que registou estes acontecimentos, uma camponesa terá respondido o seguinte a respeito dos resultados desastrosos do torneio:

- Acho que por um lado é mau, porque houve muitos feridos e muitas pessoas passaram um mau bocado, mas por outro lado foi bom porque agora posso ver este campo mais ao natural e sem tanta gente. Veja lá que até tenho espaço para pôr a minha bancazinha à vontade!


Se eu alguma vez pensei que assistir a jogos de futebol do pessoal entre 11 e tal da noite e as 2 da manhã ia dar nisto, lol.

Sem comentários: