sábado, setembro 16, 2006

Casados de fresco

Fizeram-no trajados a rigor com a roupa de gala do exército, na presença de uma centena de convidados que incluiam familiares, amigos, colegas militares e alguns políticos. Um tem 24 anos e chama-se Alberto Fernández, o outro tem 27 e dá pelo nome de Alberto Marchena. O alcaide que presidiu à cerimónia leu os artigos da Constituição e do Código Civil que a permitem e incentivou os dois homens a criarem uma família comprometida com a sociedade "com igualdade e ante a diversidade." Pouco depois, Alberto e Alberto disseram «sim», trocaram alianças e deram o nó: estava consumado o primeiro casamento gay entre militares. Infelizmente, nada disto se passou em Portugal. Foi antes em Espanha, na cidade de Sevilha, perto da base militar onde os noivos estão destacados.

Muitos parabéns e muitas felicidades para os dois. Venha o dia em que em Portugal também se possa casar independentemente da orientação sexual e com todas as letras, sem artificios legais de "contractos civis" e tretas afins por força de uma promiscuidade entre um Estado laico irresponsável e uma mentalidade religiosa mais que bolorenta.

9 comentários:

João Dias disse...
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João Dias disse...

O que eu acho incrível é que essa "mentalidade religiosa mais que bolorenta" também existe em Espanha e no entanto a vontade democrática prevaleceu.
Portanto, um "Zapatero português" também faria o mesmo nestas mesmas condições em que nos encontramos. O casamento homossexual é apenas mais um passo para completar a democracia.

Héliocoptero disse...

Não sei se a realidade espanhola é a mesma que a portuguesa. Julgo que os estudos de opinião indicam uma religiosidade menor do que aquele que geralmente se associa a Espanha, enquanto que por cá a coisa ainda tem um peso bem mais considerável.

Basta ver pela influência que um coro de igreja de catolecos tem dentro do PS. Que isto aconteça num partido supostamente de esquerda laica e republicana é sintomático de um país que permanece profundamente agarrado a uma mentalidade religiosa, não obstante uma filiação partidária que apontaria no sentido contrário.

Resta saber se a viúva Sousa Franco & Companhia vai levar a sua avante quantos aos casamentos homossexuais.

João Dias disse...

Não digo que a realidade espanhola seja a mesma, eu digo que o lobby católico é tão ou mais forte quanto em Portugal. É que a força de um lobby não se mede por números, todos sabemos como pequenos grupos conseguem fazer prevalecer a sua vontade sobre maiorias. Aliás, se calhar a homofobia em Portugal transcende as barreiras da religiosidade, no entanto aquilo que eu quis vincar foi que quando há vontade (no poder) as coisas acontecem.

Héliocoptero disse...

Zapatero tem-nos no sítio, é verdade, mas também tem o seu partido a apoiá-lo. Não é obra da vontade de um homem só.

Por outro lado, também é verdade que a legalização dos casamentos gays e a adopção de crianças por homossexuais foi fruto de vários anos de trabalho de grupos LGBT dentro do PSOE. Por cá esse esforço está por fazer, ou o PS está bem mais agarrado a uma mentalidade religiosa do que o seu equivalente espanhol. Sairia Sócrates ileso aos olhos do seu partido se impusesse a disciplina de voto aquando da votação na Assembleia dos casamentos homossexuais?

Gus On Earth disse...

Havemos de chegar, desde os civis aos militares, desde os mais jovens aos que já partilham uma vida desde o 25 de Abril. É uma questão de esperar... Isto de estar na cauda faz com que as coisas demorem mais (até as procissões...).

João Dias disse...

"Sairia Sócrates ileso aos olhos do seu partido se impusesse a disciplina de voto aquando da votação na Assembleia dos casamentos homossexuais?"

Heliocptero:
Precisamente por isso é que há os grandes políticos e há os outros...
Assumir as consequências não é fácil e requer políticos "de craveira" e com convicções mais fortes do que os interesses. Pensa assim, saiu o Ferro Rodrigues ileso com a sua visão "esquerdista" e proposta de associação ao Bloco? Ferro, estava verdadeiramente sozinho e assumiu de plena consciência essa posição solitária em virtude das suas convicções bem mais à esquerda do que grande parte do aparelho do PS.
Ou pensa no Cravinho, e como foi afastado do poder ao sugerir uma regulação nas derrapagens orçamentais.
Esses sim são grandes políticos e vão concerteza ficar na sombra, porque "parece que é o fado" dos grandes políticos.

Héliocoptero disse...

Verdade, João, bem verdade. Apesar de eu não descurar o bom político que sabe levar a água ao seu moinho, mas... é verdade.

Anónimo disse...

"Isto de estar na cauda faz com que as coisas demorem mais"
Exactamente: Espanha pode ter a mesma mentalidade religiosa que nós, um peso desmesurado da Igreja, um lobby católico igualmente forte; mas tem progresso, muito mais que nós nos últimos anos. E o progresso não é só económico, leva inelutavelmente a uma melhoria de nível de vida que propicia a abertura de horizontes, um maior cosmopolitismo e, logo, uma melhor aceitação de decisões potencialmente chocantes como esta. Vivam os noivos! (só os espanhóis por enquanto...)

PS - Numa de choque, vou por a foto no meu blog também :)