Grandes Portugueses... vindos de fora (i)
Ao longo da nossa História, muitos houve que mesmo não sendo portugueses passaram por cá e deram o seu contributo. Alguns vieram e ficaram, outros partiram uma vez cumprido o objectivo a que se propuseram. Um ilustre exemplo foi já referido nesta entrada: Manuel Pessanha, um genovês ao serviço da Coroa Portuguesa que efectivamente criou a armada nacional e recebeu de D. Dinis o título de Almirante de Portugal. Mas não é para falar dele que estou hoje a escrever aqui. A minha homenagem nesta entrada vai inteiramente para uma senhora, uma princesa inglesa que chegou a terras portuguesas com vinte e oito anos de idade e que Fernando Pessoa apelidou de Madrinha de Portugal: Dona Filipa de Lencastre!
Nasceu em Inglaterra no ano de 1359, no seio da família dos Plantageneta, membros da alta nobreza inglesa. O seu pai era João de Gaut, terceiro filho do rei Eduardo III e pai de Henrique IV. A sua mãe foi Blanche de Lencastre, legítima herdeira das vastas propriedades da sua família e que concederiam o título de Duque de Lencastre a João de Gaut por via do seu casamento.
No contexto da Guerra dos Cem Anos e por ocasião da crise política portuguesa de 1383-85, assistiu-se ao fortelacimento da aliança entre Portugal e Inglaterra, assinada ainda no reinado de D. Fernando. A nós interessava-nos porque calhava bem uma mãozinha na luta contra os castelhanos, que ameaçavam a independência nacional por a única herdeira ao trono português estar casada com o rei de Castela. Esta, por sua vez, era aliada de França, em guerra com Inglaterra desde 1337, motivo pelo qual o Duque de Lencastre via com bons olhos a cooperação militar com Portugal. Assim foi que a terras portuguesas chegaram batalhões de soldados ingleses que lutaram sob o comando do Santo Condestável Nuno Álvares Pereira, incluindo em Aljubarrota a 14 de Agosto de 1385. A vitória cimentou a pretensão do Mestre de Avis ao trono e fez dele D. João I de Portugal, que continuaria a guerra com Castela por longos anos.
Como parte da aliança luso-inglesa, foi acordado o casamento entre o novo rei português e uma dama da Casa de Plantageneta. A escolhida foi Dona Filipa de Lencastre, que celebraria o matrimónio com D. João no ano de 1387 na cidade do Porto. Esta união geraria frutos que ficaram conhecidos como a Ínclita Geração, por dela fazerem parte alguns dos nomes mais ilustres da nossa História e da Europa de então: D. Duarte de Portugal, rei poeta e escritor; D. Pedro, Duque de Coimbra, regente português entre 1439 e 1448 e um dos grandes intelectuais do seu tempo; D. João, Duque de Aveiro, nobre respeitado e avô de D. Manuel I de Portugal; D. Fernando, o princípe que morreu no cativeiro em Marrocos; e Henrique, Duque de Viseu, mais conhecido como o Infante D. Henrique. Teve ainda uma filha que chegou à maioridade, Isabel de Portugal, que casou com o Duque de Borgonha em 1430 e fez da corte deste um centro de arte e cultura da época, além de ter representado o seu marido em diversos encontros diplomáticos.
A princesa inglesa foi, portanto, a mãe da geração de ouro que levou Portugal a entrar num caminho que o inscreveu na História e cultura universais. Ironicamente, morreu poucos dias antes da partida da expedição a Ceuta em 1415, mas não sem antes armar cavaleiros os seus filhos Duarte, Pedro e Henrique. Fernando Pessoa dedicaria a Dona Filipa de Lencastre o seguinte poema:
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós o teu rosto sério,
Princesa do Santo Graal,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
Quem disse que estrangeiros naturalizados portugueses não são capazes de engrandecer o nosso país?
4 comentários:
olá, ainda bem que gostas de História e escreves bons textos sobre isso. Eu não sou dessa área mas é uma paixoneta antiga.
Se quiseres descobrir-me, procura em Espelho de Portugal, o nome de um símbolo que albergou diamantes famosos.
Não sei se queres brincar com os temas que agora persigo, a reconstituição da história do diamante chamado The Portuguese, que creio era o antigo Braganza, mas não tenho a certeza.
Outra coisa é que Portugal é simbolizado por um Dragão, ainda hoje, por exemplo nos certificados de aforro. Ora também me pus à caça e o mais antigo que descobri a referência foi no tecto de uma sala da Batalha, precisamente do tempo de D. João I e de Filipa.
py
se já leste acima podes apagar, a não ser que prefiras concorrência, ou outra modalidade, para mim tanto faz, só te queria passar a idéia
A caixa de comentários do Blogger estava a dar erro...
Se a memória não me falha, os jazigos dos reis Afonso II e Afonso III em Alcobaça têm um brasão nacional cuja coroa está encimada por um dragão. O animal já fazia parte da bandeira do reino suevo da Galécia (hipoteticamente falando, pelo menos). Podes ver uma imagem da mesma no sitio "Bandeiras Galegas", na lista de ligações "Galiza Ceive" ali na coluna direita. Procura também uma imagem do brasão da cidade de Coimbra.
De resto, é-me indiferente se fazes concorrência ou não. Não estou na blogosfera por regras de mercado: quem quiser lê, quem não quiser não lê.
boas Dragão, obrigado!, não a concorrência não era contigo, era com outros - há-se ser bem engraçado descortinar a história do Braganza - mas também me é indiferente, é com quem coincidir
quatro são as valências do Carbono
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