sexta-feira, dezembro 01, 2006

Restauração (ii): a revolta

Em 1640 estala a revolta na Catalunha e Filipe IV ordena o recrutamento de soldados portugueses para aquele país. Se no ano anterior D. João havia recusado apoiar os conspiradores por temer uma resposta imediata de Espanha, o reino vizinho encontrava-se, a partir de agora, ocupado com uma sublevação na parte oriental da península.

Em Outubro desse ano o grupo dos conjurados reunia já cerca de quarenta nobres portugueses. A 21 desse mesmo mês, um dos conspiradores encontra-se com o duque de Bragança em Vila Vicosa e recebe deste a resposta há muito esperada: D. João dá o seu apoio e aceitará a coroa caso seja aclamado. Depois de se ter decidido seguir o plano original de 1639, que consistia em tomar de assalto o Paço da Ribeira, faltava apenas marcar uma data para a revolta. Escolheu-se o dia 1 de Dezembro, de modo a evitar dilações que pudessem comprometer o secretismo da conspiração. Alguns dos nobres terão redigido os seus testamentos, enquanto a tradição popular preserva relatos de damas que armaram os seus filhos cavaleiros na véspera. De referir ainda que a conjura foi descoberta por espiões ao serviços dos espanhóis e os nomes dos conspiradores chegaram a constar de uma carta entregue ao secretário de Estado, o português de Miguel de Vasconcelos. Por sorte, ele nunca a abriu.

No dia 1 de Dezembro, pouco antes das 9 horas da manhã, o grupo começa a juntar-se no Terreiro do Paço. À hora certa, quando eram já coisa de cento de vinte homens, tomaram de assalto o Paço da Ribeira e dominaram as duas companhias de soldados que o guardavam. Miguel de Vasconcelos é atirado pela janela depois de ter sido atingido a tiro e a governadora de Portugal, a princesa Margarida e duquesa de Mântua, é forçada a recolher-se aos seus aposentos. Lá fora, a população de Lisboa confluía para a praça depois de a revolta ter sido anunciada nas ruas da cidade pelo padre Gonçalo da Costa. Uma vez controlado o palácio ribeirinho, o nobre D. Miguel de Almeida vem à varanda para proclamar a liberdade nacional e aclamar o duque de Bragança como rei. A guarnição castelhana no castelo de S. Jorge rendeu-se pouco depois e neutralizaram-se os galeões espanhóis que se encontravam na barra do Tejo, cujas fortalezas foram tomadas nos dias seguintes. Estava consumada a revolução!

O que se seguiu foram os trabalhos da Restauração. Nomeou-se um governo provisório, avisou-se o Duque de Bragança do sucesso da conjura e começou-se a recolher dinheiro para a defesa do reino. Porque estava ocupada com a Guerra dos Trintas Anos e com a revolta na Catalunha, Espanha não pôde responder em força, o que concedeu aos portugueses tempo precioso para se prepararem. Fora de Lisboa, a adesão à revolução foi rápida. Logo no dia 1 de Dezembro saíram da capital cartas que pediam às câmaras municipais que reconhecessem D. João, mas em muitos casos a aclamação e juramento fez-se mesmo antes da chegada dos documentos. As notícias corriam mais depressa que as ordens do novo governo e a população reagia com um sentimento nacional há muito contido. Para dar um exemplo, no dia da revolta encontrava-se em Lisboa o então governador de Santarém. Depois de ter assistido aos acontecimentos, cavalgou Tejo acima o mais depressa que pôde, espalhou a notícia pelo caminho e no dia 2 já o novo rei estava a ser aclamado pelos escalabitanos.

No dia 6 de Dezembro de 1640 entrava em Lisboa o duque de Bragança, sendo coroado D. João IV de Portugal e do Algarve a 15 do mesmo mês em cerimónia pública no Terreiro do Paço. Estava restaurada a coroa portuguesa e lutar-se-ia por ela até 1668, altura em que Espanha reconhece, finalmente, a independência de Portugal. D. João morreria antes de ver o seu trabalho concluído, mas isso não impediu que recebesse com toda a justiça o cognome de o Restaurador!

1 comentário:

Anónimo disse...

Saiu agora um livro sobre a construção da imagem de poder de D. João IV e da Dinastia saída do vitorioso 1º de Dezembro: "Real Panteão dos Bragança: atre e memória" [ISBN 972-99612-9-8]. A ver com atenção...