domingo, janeiro 14, 2007

Grandes Portugueses: a final

Após meses de espera, inúmeros debates, discussões, artigos de opinião e provas abundantes em como muitos de nós têm muito que reflectir sobre a palavra «argumentar», eis que se soube, enfim, quais os finalistas do concurso Os Grandes Portugueses. São eles, por ordem alfabética:


Pelo caminho, mas ainda assim entre os outros noventa mais votados, ficaram todos estes, entre eles Amália Rodrigues, António Damásio, o padre António Vieira, Fernão Mendes Pinto, D. João IV, Gil Vicente, Sousa Martins, D. Carlos, Rosa Mota, Maria João Pires, padre António Andrade, Eça de Queirós, Bartolomeu Dias, Afonso Costa, Salgueiro Maia, Almada Negreiros, Florbela Espanca, Humberto Delgado, Damião de Góis, Bocage, D. Maria II, a "Ferreirinha", Ruy de Carvalho, D. Afonso III, António Variações, Carlos Paredes, a rainha Santa Isabel, Pedro Nunes, Natália Correia, Paula Rego, D. Leonor, Gago Coutinho, Afonso de Albuquerque, Catarina Eufémia, Fernando Nobre, D. Dinis, D. João I, Nuno Álvares Pereira e, para completar o trio de Aljubarrota, a nossa querida padeira, LOL! Ah grande Brites de Almeida que ficou em 51º lugar! A todos eles, a alguns dos outros noventa e a tantos outros grandes portugueses que ficaram de fora: um grande brinde de copo bem cheio em sua honra! Esta é a ditosa Pátria minha amada!

Quanto aos finalistas, tirava dois da lista: Álvaro Cunhal e Salazar. O último por motivos óbvios, o primeiro porque, não obstante o mérito de ter lutado contra uma ditadura, fê-lo tendo outra como modelo e objectivo. Os dois homens podem ter estado nos antípodas do espectro político, mas neste como noutros casos os extremos tocam-se.

Agora venha a votação. A RTP já tem disponível esta página e estes fóruns para cada um dos dez eleitos. A ver vamos se a direita de memória histórica mal digerida (e muito distorcida) vai fazer birra e votar em força em Salazar, o homem que se distinguiu pela sua pequenez e provincianismo, mesmo que isso implique preterir o fundador da Nação, os poetas que a glorificaram, os homens que a engrandeceram e inscreveram na História Universal ou aquele que lhe deu a mais alta face humana. A propósito, nos debates que se seguem na televisão pública, cada um dos finalistas terá um defensor. Quem será o de Salazar?

8 comentários:

Pedro Morgado disse...

Sem dúvida dois nomes a mais nessa lista...

Manel disse...

Permitam-me que discorde. O farol de Cunhal pode ter sido uma outra ditadura, mas a forma como ele agiu no pós-revolução foi digna e pacifista. Contribuíu conscientemente para o não desencadear de uma guerra civil, aceitou as derrotas e integrou-se no funcionamento da democracia, enriquecendo-a bastas vezes. Juntando a isso uma vida inteira de combate pelas liberdades, com altíssimos custos pessoais, uma tese liberal acerca do aborto, defendida sob custódia em plenos anos 40, e todo o trabalho teórico e artístico, penso que há razões de sobra para que esteja na lista. Concorde-se ou não se concorde. Projecte-se o que se quiser sobre a hipótese do poder algum dia lhe ter ido parar às mãos. A verdade é que não foi. A verdade é que ele não o perseguiu a todo o custo, bem pelo contrário. Neste caso aplica-se a expressão "contra factos não há argumentos". E para mim ele é um grande português. Nada disso tem a ver com o quadradinho onde decido pôr a cruz de tantos em tantos anos. Agora, estar o Salazar e não estar o Mário Soares, isso sim, é um mau sinal.


E que guay, este blog, por Toutatis!

Héliocoptero disse...

E, no entanto, nos últimos anos de vida de Cunhal bem se viu o modo como os renovadores dentro do PCP foram tratados. Isso e a lealdade cega que o partido mantinha e ainda mantém a movimentos e ditaduras que se denominam de comunistas, como Cuba ou a China, dizem muito dos limites da adaptação de Álvaro Cunhal a um modelo político que nunca foi o seu.

Ou alguma vez viu um dirigente do PCP falar a favor dos Direitos Humanos no Tibete e sobreviver politicamente ao feito?

Manel disse...

Já vi muita coisa dentro do PCP, acredite, incluindo opiniões divergentes, incluindo gente que se afasta da linha dura e não é afastada, ou gente que se afasta da estrutura partidária de livre vontade. De qualquer modo, a vida interna do PCP, embora possa ser um indicador, não nego, é coisa que não considero assim tão relevante para esta discussão: discutem-se aqui os grandes portugueses, não os grandes comunistas. Também estive mais do que uma vez com Cunhal, pessoalmente, e devo dizer que foram momentos que marcaram a minha visão dele como pessoa, assumo-o. Mas deixe-me colocar-lhe a pergunta de outra forma: considera o PS um partido com uma vocação ditatorial? É que as calorosas relações com a China, nomeadamente no contexto do próprio congresso do partido, relações essas que implicam um silencioso ignorar da questão tibetana, tornam pertinente que lhe ponha esta questão. Recusar uma visão do mundo a preto e branco [ou a preto e vermelho, como queira] e depois espetá-la em cima de uma figura como o Álvaro Cunhal parece-me um bocado simplista. Atrever-me-ia até a dizer que é uma descortesia histórica considerar que ele e Salazar se tocam, por opostos que sejam.

Só para desanuviar: o Ruy de Carvalho é um grande português por alma de quem? Só se for pela alma do José de Castro, que teve o azar de morrer antes das telenovelas e também fazia pãdã com a Eunice Muñoz. Canastrão por canastrão, lá está, punham um canastrão bonacheirão e que marcou como nenhum outro o país democrático, tudo enquanto representava os mais diversos papéis: Mário Soares [não largo a minha].

Manel disse...

Pois, é verdade, o Ruy de Carvalho não ficou nos dez primeiros. Mas a propósito de cinzentos, não participou Humberto Delgado no 28 de Maio? Não foi ele um homem do regime até ao final dos anos 1950, um regime que teve a sua história mais negra e repressiva na década anterior? Será que estava mal na lista? Parece que há muito que discutir quanto ao que faz com que alguém seja um grande português, não concorda?

Héliocoptero disse...

O PS é um partido banal, se não por inteiro, pelo menos em boa parte. E como banal que é, rege-se pela banalidade economicista do lambe-botas, para quem em relações externas o dinheiro fala mais alto que os princípios que se defende em casa. Nos Direitos Humanos como no mercado de trabalho: o primeiro não é conveniente referir na China, o segundo convém imitar o modelo chinês de mão de obra barata.

O PCP tem o seu próprio modelo de "lambe-botismo": a subserviência ideológica, mesmo quando de ideologia já só sobra o pior e o nome (como é o caso da China).

Quanto ao Humberto Delgado, é uma boa questão. Possivelmente pode-se dizer que ele teve a sorte de ter morrido mártir, logo foi mais facilmente mitificado. Ou a resposta à sua pergunta pode estar no facto de ele ter passado de homem da ditadura para defensor da democracia, em vez de se ter oposto a um modelo dictatorial com o objecto de instaurar outro. Seria talvez caso para perguntar o que achava Salgueiro Maia do Estado Novo anos antes de o derrubar.

E este blogue tem orgulho em ser muito gay, melhor ainda se for por Toutatis, porque também se orgulha de ser manifestamente pagão :p

Manel disse...

Hmmmm... guay, eu disse guay, tío. Mas gay também serve. :)

Héliocoptero disse...

Ups! Dei com a língua nos dentes :p