domingo, fevereiro 18, 2007

A unifuncionalidade da JS

Há uma piada na série de animação do Dilbert que diz que os homens não são multifunções, tão grande é a dificuldade que têm em executar mais do que uma tarefa ao mesmo tempo. Ou conversam ou trabalham, ou escrevem ou ouvem. A Juventude Socialista e, com ela, a generalidade da classe política portuguesa, parece padecer do mesmo mal, uma vez que não é capaz de lidar com mais do que um tema dito "fracturante" a cada dois, três ou mais anos. Vai daí, a tão badalada bandeira dos casamentos homossexuais foi adiada para... sabe-se lá quando! E isto depois do próprio líder da JS ter dito que "matérias de direitos fundamentais são sempre prioritárias" e que "podem ser feitas várias coisas ao mesmo tempo" (ver aqui). Dir-se-ia que Pedro Nuno Santos é multifunções, mas pelos vistos só em princípio.

Não que o emprego e a habitação, a Europa e o ambiente não sejam temas importante. São-no certamente. Mas daí a nem sequer avançar com um debate sobre os direitos homossexuais, principalmente quando se pode fazer várias coisas ao mesmo tempo, vai um salto que faz toda a diferença entre falar em mudar e mudar de facto um país. Não se mostra à sociedade civil a realidade de países como Espanha, Holanda e Canadá, não se insiste entre políticos sobre o conteúdo deste documento aprovado pelo Parlamento Europeu e não se discute a origem e História do casamento, que continua agarrado a absolutos religiosos tal como há cem anos, quando se instituiu o de natureza civil. Depois a classe política tem a lata de afirmar que está por fazer o debate, quando são as próprias lideranças partidárias quem se recusa a fazê-lo. O pequeno Marques Mendes é um deplorável exemplo disso mesmo, ele que há um ano afirmou que os casamentos homossexuais não são uma prioridade, apesar de, depois disso, ter proposto um Dia Nacional do Cão e de ter votado a favor da criação de uma bandeira para o parlamento. Quem disse que os homens nunca se medem aos palmos?

Uma semana depois do referendo à despenalização do aborto, as elites nacionais continuam na mesma como a lesma: medíocres, provincianas no pior sentido da palavra e parcas em coragem. Não lideram, quando devia ser essa a sua função, mas arrastam as questões polémicas o mais que podem até ao dia em decidam posar para a fotografia e dar o ar de modernos e vanguardistas, apesar de com anos ou mesmo décadas de atraso em relação ao resto da Europa ocidental. Recusam-se a debater algo que depois dizem não estar ainda debatido, passando a batata quente tanto quanto possível para a sociedade civil, se preciso for recorrendo a um referendo para se decidir aquilo que eles não têm coragem de deliberar.

Se a elite política portuguesa fosse geralmente digna do seu estatuto, talvez tivesse olhado para lá do seu empoeirado umbigo de sacristia e tomado nota daquilo que, há uns meses atrás, quando no parlamento da Irlanda do Norte se discutia um pacote de medidas contra a discriminação por orientação sexual, uma deputada irlandesa disse a um líder conservador:

Move on - show leadership. Days of second-class citizenship and hiding our identities are gone!
[Adiante! Mostre liderança. Acabaram os dias de cidadania de segunda categoria e de esconder as nossas identidades!]

Em Portugal, no entanto, liderança de qualidade é um bem escasso.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Uma semana depois do referendo à despenalização do aborto, as elites nacionais continuam na mesma como a lesma: medíocres, provincianas no pior sentido da palavra e parcas em coragem"

CLAP CLAP CLAP!!! Tá tudo dito, caro amigo :)