domingo, junho 24, 2007

Homem ou mulher, amo quem quiser!

Às vezes penso que o Diário de Notícias sofre de alguma forma de esquizófrenia jornalística. Às vezes até olho com desconfiança para qualquer notícia mais agradável - ou redigida de um modo menos conservador - naquela de que a coisa só pode trazer água no bico. Até porque já o fez no passado e por vezes o dito jornal mais parece uma segunda versão do Correio da Manhã. Hoje, no entanto, não resisto a citar a reportagem sobre a 8ª Marcha do Orgulho LGBT. Talvez seja a minha satisfação por ter finalmente sido uma manifestação mais festiva, como já acontece em tantos outros países, ou talvez sejam os detalhes da noiva e da senhora Filomena, cozinheira de um restaurante algures no percurso que a marcha tomou. Tenho gosto em ver e ler sobre estas pequenas manifestações de uma sociedade em mudança, onde, ao contrário do que sucede em países do leste europeu, não ficou o registo de violência homofóbica, mas sim o de apoio espontâneo de quem vê passar. O artigo original pode ser lido aqui:

Eram quase seis da tarde quando, depois de dizerem o sim, Sofia e Ricardo saíram da Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, em Lisboa, e foram surpreendidos por uma manifestação de cor-de-rosa, amarelo e laranja. A noiva, de branco vestida, estendeu os dedos num "v" de vitória, mostrando que simpatizava com quem pedia "sem atraso, sem demora, casamento civil agora", e puxou o marido para um beijo simbólico, rodeado de gays, lésbicas e transexuais que gritavam, entusiasmados, "nem menos, nem mais, direitos iguais".

O encontro em pleno Chiado não estava na agenda da 8.ª Marcha do Orgulho LGBT, mas não podia ter sido mais aplaudido: é que o casamento homossexual é uma das principais bandeiras das cinco associações organizadoras do evento: Ilga, Clube Safo, Não Te Prives, Panteras Rosas e UMAR - União Mulheres Alternativa e Resposta. "Nós também somos famílias", lia-se na faixa que abria a manifestação. Por isso, o direito ao casamento e à parentalidade (a adopção e ainda os direitos dos companheiros de pais e mães homossexuais) são talvez as reivindicações mais partilhadas pela comunidade, a par, é claro, do fim da discriminação de facto - aquela que "não está na lei mas na cabeça das pessoas", como explica Paulo Corte Real, da Ilga. Nas escolas, nos tribunais, nos hospitais, no contacto com a polícia.

Pela primeira vez, a marcha não desceu a avenida da Liberdade. Perdeu-se em organização mas ganhou-se em ambiente festivo e em contacto com a comunidade. "Na avenida é preciso saber e querer ir, aqui não, já é um espaço gay friendly", explica Paulo Corte-Real. "E há uma outra ligação à cidade." A música de George Michael não foi suficiente para interromper os habituais jogos de sueca no Príncipe Real. Mas Gloria Gaynor fez correr Filomena, a cozinheira do restaurante Sinal Vermelho, até à rua São Pedro de Alcântara. Veio ainda de avental branco e touca na cabeça para ver a agitação e dizer que acha "muito bem". No Chiado, uma mãe explicava à atónita filha de cinco anos que "às vezes há homens que gostam de outros homens". A marcha entrou no Rossio com Madonna cantando Like a Prayer e, depois, a festa prometia continuar, pela noite fora, no arraial da Praça do Comércio. Há quem ache que fazem barulho a mais, mas os manifestantes preferem dizer: "o teu silêncio é a força da discriminação."

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