segunda-feira, outubro 23, 2006

Os meninos de coro da Internacional

Primeiro foi a presença das FARC na Festa do Avante, pelos vistos coisa que já acontecia há anos sem que ninguém tivesse dado por isso, mas nem por isso menos grave ou condenável. Seguiu-se a notícia de que o congresso do PS ia contar com a presença de uma delegação do Partido Comunista Chinês, companhia por certo muito recomendável no que a Direitos Humanos e valores humanistas diz respeito. Veio depois a votação na Assembleia da República de um protesto contra o teste nuclear norte-coreano e que só não foi aprovado por unanimidade porque o PCP não quer levantar a voz contra o regime da Coreia do Norte, já que este ostenta o nome de comunista. A fidelidade cega do Comité Central soma e segue, livre desse peso terrível que deve ser a consciência critíca e a coerência.

O mesmo partido que tanto fala contra os voos secretos da CIA e as constantes violações dos Direitos Humanos por parte da administração norte-americana, que se ultraja com intervenções militares e diz valorizar coisas como a paz e a democracia, vem agora mostrar que, afinal, esse discurso é relativo à filiação ideológica de quem comete os actos. Porque, pelos vistos, o que se torna condenável quando cometido pelos Estados Unidos da América é compreensível, tolerável, senão mesmo aceitável quando levado a cabo por quem se diz comunista. Inclusive o dotar-se de armas nucleares! Álvaro Cunhal pode já não estar vivo, mas há hábitos de falta de lucidez e de auto-crítica que continuam a persistir, não obstante vozes discordantes que lá vão aparecendo de tempos a tempos, como parece ser o caso nos dias que correm (ver aqui).

O PS, por sua vez, não quer ficar atrás, e além de estar a preparar um congresso que vai contar com a presença de uma delegação do Partido Comunista Chinês, responde às críticas que têm surgido na blogosfera com o argumento de que os seus autores "não foram eleitos para coisa nenhuma". Para o senhor José Lello, portanto, apenas quem é eleito para um qualquer cargo tem o direito a ser levado a sério cada vez que exprime uma opinião. Certamente um conceito de democracia que dará muito que pensar aos membros da delegação chinesa, tão ávidos que eles devem estar em perceber essa coisa de direitos e liberdades fundamentais.

3 comentários:

Al Cardoso disse...

Os politicos portugueses no seu melhor!!!

Anónimo disse...

Pior do que os ditos políticos, são alguns bloggers que, outrora tão céleres no ataque ao PCP e às FARC, souberam convenientemente agora esgrimir argumentos puramente formais sem qualquer relevância para a questão de fundo: o respeito pelos direitos humanos.

Héliocoptero disse...

Para dar livre uso a um adágio, é a lógica do diz-me quem és e eu dir-te-ei o que fazes de errado.