quarta-feira, outubro 25, 2006

A vez dos rios

Na óptica tantas vezes curta de tantos portugueses, anos e anos fracos em chuva com o inevitável recuo das linhas fluviais trouxeram a ilusão de nova terra disponível para aquela obra que sempre se quis fazer, uma construção de sonho ou o tal marco indispensável na marcha para o progresso. Mas agora que as cheias estão de volta, eis chegada a hora em que as pessoas se apercebem do preço de construir a casa em leito de cheia, de acumular entulho nas margens e bloquear com um muro ou parque de estacionamento aquele rio que se julgava minúsculo ou mesmo seco. A Natureza reclama o que é seu e as águas lá se expandem-se em altura por não poderem fazê-lo em largura, invadem o que normalmente estaria seguro porque alguém bloqueou o seu percurso natural.

Não é de esperar, no entanto, uma mudança de hábitos de construção neste mísero país de parca consciência ecológica onde os direitos adquiridos são reis e senhores, a urbanização um modo de vida, o betão sinónimo quase exclusivo de desenvolvimento e a mentalidade popular dita que a posse de um terreno equivale ao direito de nele fazer o que bem se entender. Deveres para com o bem comum é coisa que não existe e os planos de ordenamento do território vivem ao sabor da excepção e dos favores neste Portugal mesquinho de interesses imediatos, com sorte talvez a curto prazo, que médio e longo demora muito tempo e eu quero é viver bem.

Se nem com incêndios todos os anos aprendemos a proteger, ordenar, respeitar e escutar os avisos do meio-ambiente, quanto mais com anos de chuva intensa intercalados por outros tantos de seca que criam ilusões de segurança.

2 comentários:

Rita disse...

Nem de proposito... sabes do belo parque de contentores que está projectado para o Carregado, ali ao pé do Tejo e frente à solarenga lezíria ribatejana? Meus ricos lençois de água subterraneos.. não fujas enquanto é tempo não...

Al Cardoso disse...

Nao aprendemos nao e por isso nao avancamos, embora pensemos que sim.