Dia do Terramoto
Faz hoje exactamente duzentos e cinquenta e um anos. Por volta das nove e meia da manhã do dia 1 de Novembro de 1755, com as igrejas e ruas cheias de gente em Dia de Todos os Santos, Lisboa tremeu violentamente. As paredes abriram fendas, o chão da cidade rompeu-se e os edifícios abateram, misturando na derrocada velas com panos e madeiras. O primeiro abalo durou coisa de seis minutos. Seguiram-se os incêndios que começaram a lavrar por entre os escombros. Muitos dos sobreviventes fugiram para as margens do Tejo em busca da segurança que a água e o espaço aberto lhes conferia. Para espanto dos lisboetas, o leito do rio começou a recuar lentamente, revelando o fundo lamacento onde jaziam restos de barcos afundados e mercadorias perdidas. Vinte ou mais minutos depois do abalo, Lisboa era atingida por um tsunami que se abateu sobre o porto e submergiu toda a Baixa. O que escapou à água, o fogo consumiu durante dias.
O terramoto não se fez sentir apenas na capital. No Algarve a destruição foi generalizada e um pouco por todo o sul e centro do país houve vítimas e muitos edifícios danificados ou completamente destruídos. Em Alcobaça, a fachada medieval do mosteiro abateu parcialmente e teve que ser demolida para dar lugar à actual. A terra tremeu também no resto da Europa ocidental e na África do norte, tendo o tsunami chegado a Marrocos e à costa sul e centro de Inglaterra.
Em Lisboa, a perda em vidas humanas e património cultural foi imensa: mais de noventa mil mortos e a destruição de cerca de 85% de todos os edifícios da cidade. Por entre palácios, conventos e igrejas com um recheio insubstituível, perdeu-se o Paço da Ribeira com a sua biblioteca real de setenta mil volumes e o Convento do Carmo em todo o seu esplendor com o túmulo do grande Nuno Álvares Pereira. O Hospital de Todos os Santos foi consumido pelas chamas, a igreja primitiva de Santo António desapareceu e da da Misericórdia sobra apenas a fachada reconstruída, uma amostra daquilo que terá sido o esplendor manuelino do seu interior. Para se ter uma ideia mais gráfica do grau de destruição, veja-se o seguinte mapa que encontrei no blogue Pobre e Mal Agradecido e que sobrepõe a planta antiga de Lisboa (a cinzento) com a actual (a linhas negras). Podem clicar para maximizar a imagem.
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