Escócia independente?
É a pergunta que começa a tomar lugar na arena política britânica. É verdade que a ideia sempre esteve presente, principalmente depois do referendo de 1997, que decidiu a constituição de uma Escócia autónoma com parlamento próprio. Mas nunca como agora a possibilidade foi levada a sério. Tudo porque um estudo de opinião que entretanto foi publicado pelo Sunday Telegraph revela que pela primeira vez o número de escoceses a defender a independência ultrapassou a barreira dos 50%. E como se isso não bastasse, o mesmo inquérito diz que 59% dos ingleses defende a separação dos dois países (ver aqui). Estão fartos uns dos outros, portanto.
O momento é, aliás, propício à criação de um debate intenso no (futuramente defunto?) Reino Unido, já que está-se a menos de um ano das eleições legislativas na Escócia e o Partido Nacional Escocês já veio dizer que, caso ganhe a maioria no parlamento autónomo, vai mesmo propôr um referendo à independência. E as hipóteses de conseguir vencer as eleições não são pequenas: os trabalhistas já foram mais populares a norte da muralha de Adriano e o sentimento nacional escocês tem vindo a crescer, como de resto demonstra o dito estudo de opinião. Junte-se-lhe o desgaste provocado pela guerra no Iraque e eis uma receita para emagrecer a diferença de 25 deputados que separa os nacionalistas dos trabalhistas em Edimburgo.
Pelo meio, joga-se a questão das receitas dos poços de petróleo em águas escocesas, dos impostos cobrados na Escócia por Londres e dos rios de dinheiro que muitos ingleses sentem que estão a ser gastos nas cada vez mais separatistas terras escocesas (daí os tais 59% do estudo de opinião). Para os trabalhistas em particular, está em causa uma boa base eleitoral, já que dos seus 356 deputados na Casa dos Comuns, 39 vêm de círculos eleitorais escoceses. E isto já para não falar da situação curiosa de Tony Blair e do seu provável sucessor Gordon Brown, ambos oriundos da Escócia. A auto-determinação escocesa seria um sério desaire para o partido actualmente no poder em Londres.
Mas enquanto não chegam as eleições autónomas, na caixa de comentários da BBC já se esgrime argumentos, pondo-se em causa a viabilidade enquanto Estado independente de um país da dimensão da Escócia. Certamente que se se tratasse da Irlanda as dúvidas seriam as mesmas, por ser uma ilha pequena e cuja localização faria com que continuasse a ter como parceiro natural o Reino Unido (onde é que eu já ouvi semelhante ideia na boca de iberistas...). Mas não é por isso que os irlandeses estão mal ou deixam de ser um país independente de sucesso, pois não? E, na eventualidade de uma auto-determinação escocesa, quais seriam as ondas de choque na Catalunha ou na Galiza? :)
Sem comentários:
Enviar um comentário