A indiferença de Neves
Ninguém tem dúvidas de que tratamos de uma questão que o País não quer tratar. A esmagadora abstenção no primeiro referendo em 1998 (68%) mostrou-o à saciedade e a apatia recente confirma-o. Trata-se de um problema que uma elite caprichosamente impõe à população, mergulhada numa conjuntura complexa, difícil e exigente.
Isto escreveu João César das Neves neste artigo de opinião. Ele queixa-se que a questão não é importante, ele diz que são as elites quem impõe o problema e ele acha que a maior parte dos portugueses não está muito p'ra 'í virada para essas coisas de debater a prática do aborto. O senhor Neves diz e talvez tenha razão: há, é facto, uma parte da população nacional para quem o referendo de 11 de Fevereiro é inconsequente, porque essas mesmas pessoas têm posses para ir a Espanha interromper uma gravidez. Os que não têm, os que mais sofrem com a tal conjuntura complexa, difícil e exigente, têm que se sujeitar a métodos abortivos rudimentares, a parcas condições de higiene, a engolir a lentidão moralista de comissões de ética, a ouvir que a mulher não pode decidir e a arriscar a vida por causa de um aborto que correu mal, porque ilegal neste país.
Pena é que todos os portugueses não disponham de meios para ir ao outro lado da fronteira. Aí sim talvez e com uma grande dose de hipocrisia se pudesse dizer que estamos a tratar uma questão secundária, porque qualquer mulher podia sem qualquer dificuldade fazer um aborto em Espanha e o senhor Neves, no seu pretenso moralismo de rato de sacristia, talvez se sentisse melhor por saber que aquilo que tanto condena continua a ser feito por portuguesas, mas não em Portugal.
1 comentário:
Numa reconheço um ponta de verdade no que ele diz: portugal proporciona tanto apoio aos reformadores sociais e politicos (os que visam modernizar e humanizar uma sociedade estática) como o Irão a Israel...
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