domingo, julho 08, 2007

E depois os gays é que estão "baralhados"

A II Marcha do Orgulho LGBT do Porto teve lugar ontem, contando com a participação de mais de duzentas pessoas, a presença da realizadora Raquel Freire - uma das madrinhas do evento - e o apoio da Juventude Socialista, do Bloco de Esquerda e do Partido Humanista, cujos representantes se juntaram à manifestação. Lendo esta notícia da RTP sobre o evento, descobre-se que houve um senhor que assistia e que ficou "baralhado" por ter visto marchar dois conhecidos seus. A mesma pessoa terá dito ainda, e passo a citar, que teria "um grande desgosto se tivesse um filho ou um neto assim".

O que este caso revela é aquilo que já aqui se tinha dito anteriormente: numa sociedade onde a heterossexualidade é tida como norma, qualquer pessoa é heterossexual até prova em contrário. A homossexualidade não se manifesta na cor da pele, cabelo ou olhos, não provoca uma fisionomia distinta e não origina qualquer maneirismo que seja universal a todos os gays e lésbicas. Por isso mesmo o tal senhor ficou "baralhado" quando viu dois conhecidos seus, porque ele, como todos os portugueses, cruzam-se e convivem diariamente com homossexuais que, por não exteriorizarem a sua orientação sexual por vontade própria, são tidos como heterossexuais. E minorias silenciosas e invisíveis são minorias que não podem ser objecto de direitos por não existirem aos olhos da sociedade e da classe política, motivo pelo qual elas precisam de se manifestar em marchas como a que o tal senhor acha "nojenta". Mal deve ele desconfiar que todos os dias, ao sentar-se diante da televisão, passa-lhe pela vista uma série de gays e lésbicas a apresentar reportagens e noticiários, programas de entretenimento, a representar em telenovelas e até a jogar dentro das quatros linhas dos campos de futebol. Aliás, nunca lhe deve ter ocorrido a possibilidade de alguns dos jogadores de futebol cujos posteres são exibidos nas paredes dos quartos dos filhos ou netos poderem ser homossexuais. O mundo do desporto, tal como qualquer outra actividade profissional, não está isento de diversidade de orientações sexuais. Descobri-lo iria certamente deixar o dito senhor ainda mais "baralhado", ou não estivessemos nós num país onde todos são heterossexuais até prova em contrário e onde o facto de não haver uma única grande figura pública que tenha a coragem de ser honesta apenas atrasa a igualdade de direitos entre Portugueses. O que seria um Portugal onde um Cristiano Ronaldo se assumisse como homossexual?

Já agora, se não há uma marcha do orgulho heterossexual - a critica tantas vezes proferida pelos homofóbicos ou casos de armário interiorizado - é precisamente porque ninguém tem "um grande desgosto" por ter um filho ou neto que goste do sexo oposto. Aos heterossexuais os seus pais, o Estado e os tribunais não dizem que eles devem ter vergonha ou medo de serem como são.

1 comentário:

Rita disse...

sabes que as mentalidades cá par o norte não são nada meiguinhas em relação a esses assuntos.... prncipalmente por causa dos padres moralistas e dos machos de família que fogem dos homossexuis como o diabo da cruz, apenas porque são eles próprios um homossexual reprimido. na verdade se pensares o esforço que essas pessoas fazem para manterem a fchada para si próprios, até há é que ter pena...

PS: qualquer erro neste comentário é da m#rda de teclado que me deram...