Grandes Portugueses... vindos de fora (iv)
Finda a apresentação aqui no Coroas do pequeno conjunto de três exemplos de grandes portugueses de origem estrangeira, achei que talvez não fosse nada má ideia escrever uma quarta entrada para concretizar a ideia que esteve por detrás do dito trio.
A finalidade dos textos sobre Filipa de Lencastre, Luísa de Gusmão e Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha não foi o de intercalar entradas sobre o mundo actual com outras sobre História. Também não se ficou a dever a nenhum prazer pessoal pelas figuras histórica que moldaram Portugal, muito embora esse sentimento estivesse sempre presente. O objectivo foi apresentar três ilustres exemplos de como a nacionalidade não se adquire apenas pelo local de nascimento ou pela ascendência que se tem. Independentemente da origem de uma pessoa, a identidade nacional pode também ser ganha por meio do mérito, derive este do esforço em aprender a língua, História, práticas e tradições do país de adopção, ou de acções em prol do seu engradecimento e até defesa. Os exemplos dados concretizam esta ideia e servem de argumento contra dois tipos de discurso.
O primeiro é popular entre a direita e afirma que um estrangeiro naturalizado português não é português de verdade. Basta recordar os protestos da extrema-direita contra a entrada de Deco na selecção nacional de futebol ou a participação de Francis Obikwelu no atletismo em representação de Portugal. Ambos os casos, no entanto, são apenas os mais recentes numa longa lista de estrangeiros feitos portugueses que deram algo ao nosso país ao longo de mais de oitocentos anos de História e de que os três exemplos aqui apresentados são apenas a ponta do iceberg. Estivessemos na década de 1640 e os meninos do PNR e afins talvez andassem a exigir a expulsão de D. Luisa de Gusmão; tivesse isso acontecido de facto e a Restauração podia ter tido um final bem diferente.
O segundo tipo de discurso é popular entre a esquerda e consiste basicamente em menosprezar ou mesmo escarnecer tudo ou quase tudo o que valorize sentimentos de identidade nacional. Surge como reacção à direita nacionalista, advogando um universalismo como opção necessária, o que para mim é um erro. E por três motivos: porque esquerda e sentimentos nacionais não são incompatíveis, como o demonstra os casos galego e catalão, porque o enaltacimento de uma coisa não é sinónimo de menosprezo de todas as outras - logo de sentimentos de superioridade - e porque a ignorância e alheamento por detrás da xenofobia não se enfrenta com mais do mesmo. Pelo contrário, a resposta passa em parte pela valorização e instrução em símbolos e História nacionais em toda a sua riqueza e diversidade. Façam um esforço, camaradas, e aprendam que a nacionalistas católicos italianos responde-se com o facto de a guarda do Papa ser suiça e não italiana...
Já agora, é verdade que os três grandes portugueses vindos de fora que eu apresentei foram monarcas. Talvez a história de alguém mais abaixo na pirâmide social tivesse sido boa ideia, mas eu sempre achei que o papel das elites passa por isso mesmo: dar o exemplo.
1 comentário:
Nao poderia estar mais de acordo com o que tao bem escreveste.
Sim o ser nacionalista ou patriota, nao faz de ninguem xenofobo, e nao tem porque ser necessariamente da extrema direita.
Ser nacionalista e gostar da nossa patria, sem nos considerar-mos nem melhores nem piores que os outros, so diferentes pela nossa cultura.
Um abraco serrano.
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